segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Última gota de esperança

Não aguento mais um gole. Em minha boca sinto somente o amargo gosto de tantas bebidas. Ao meu redor tudo se movimenta, sem sair do lugar. Há muitos rostos, mas só vejo expressões vazias. São pessoas como eu. Saímos da realidade de nossas vidas, fumando, bebendo, nos drogando e transando com qualquer um. Tentamos, em vão, dar um sentido para uma vida vaga. Vomito mais uma vez.

Resolvo sair dali. Não consigo alcançar o efeito que antes atingia, mesmo tendo tomado tudo o quanto pude. Antes me sentia leve, tranquila, meus problemas sumiam durante uma noite de drogas e pecados, mas apenas por uma noite. No outro dia sentia fortes dores de cabeça e vomitava a todo o momento, mas ainda valia pelo meu momento de prazer, minha fuga. Hoje restam apenas as dores e náuseas, antes mesmo da noite acabar. Não consigo mais esconder a realidade.

Passo correndo, um pouco tonta, por aqueles corredores imundos. Bato o portão da casa. Saiu vagando por aquela rua vazia e triste, como minha alma. Está muito frio e dos seis postes, apenas dois ainda funcionam, mal iluminando o caminho. Indago-me porque faço isso, o que mais quero da vida. Tenho uma grande casa, sempre cheia de muitos amigos, pais casados que ganham bem, o carro do ano e as roupas da moda, além de uma boa mesada. Porém minha casa está cheia de amigos que não se importam com o que há embaixo dessas roupas da última estação, pais que tentam suprir a falta de carinho, sua ausência e suas traições, com dinheiro, atendendo a cada capricho material meu. Um carro que me leva para qualquer lugar, menos para onde está minha felicidade. Preciso de um sonho, uma esperança, um amor.

Percebo que caminhei até uma antiga ponte. Vejo meu reflexo na água e sinto vergonha da imagem que encaro. Imagino como deve estar gelado ali. Será que sentiriam minha falta? Meus pais? Ocupados demais. Meus amigos? Desejam tomar meu lugar, ah, se soubessem... Começo a tirar cada peça de roupa. Sinto o frio tocar meu corpo. Enquanto lágrimas escorrem por meu rosto, procuro, em meus últimos segundos, uma razão para continuar viva. Com as pernas tremulas, subo na proteção da ponte. Suspiro.

Estou sentindo cada fibra do meu corpo ficar imóvel. A água penetra minha pele como finas agulhas de cristal. Não penso em mais nada. Fecho meus olhos e vislumbro um sonho eterno. Minhas preocupações e tristezas afundam como um grande navio em meio ao oceano. O navio está me levando para longe, muito longe. E assim leva minha alma, transformada em minha última gota de esperança.

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