domingo, 18 de julho de 2010

Handshake

Deitada em sua cama, olhava fixamente o teto. Precisava relaxar. Conhecia cada detalhe daquelas antigas madeiras sobre sua cabeça. Era sempre assim. Quando algo a perturbava, contar cada risquinho e prego a faziam esquecer por alguns segundos da aflição que preenchia seu peito. Porém aquela tarde foi diferente. O teto, embora o mesmo, não era mais o mesmo. Seus múltiplos tons de marrom, que carregavam uma história do que um dia fora uma árvore, não atuavam mais como seu refúgio. Contar cada risco e prego parecia inútil. Na verdade não parecia, ela sabia que realmente era. Percebeu que as memórias eram fortes demais para adormecerem, por isso sua mente também não adormecia. Entendia que seu refúgio era outro, porém tão longe, longe, longe. O que fazer? Ela não conseguia continuar assim. E num ato impensado fechou todas as janelas, apagou as luzes, trancou a porta e saiu.

A chuva estava fina, fria. Ao atravessar os limites do portão, imaginou se realmente iria fazer isso, -que loucura- imaginou ela. Algumas quadras mais longe, sentiu a chuva intensificar. Poderia voltar, ainda estava perto de casa, poderia desistir, ou poderia ser feliz. Então sorriu. Correu com a pressa que nunca sentiu antes. Ouviu dizer que se corresse na chuva iria molhar-se muito mais. Mas isso já não importava. Ela não poderia demorar, pois cada minuto a menos para chegar era um minuto a mais ao seu lado. Ninguém sabia onde ela estava. Era perigoso. Era arriscado. Era seu ponto de equilíbrio.

Os carros passavam rápidos. Não havia ninguém andando pela rua. Quem sabe uma ou duas senhoras com seus inseparáveis guarda-chuvas. E ela, com os cabelos úmidos, respiração ofegante e um sorriso nos lábios vermelhos, em consequência da circulação rápida. Entre a visão embaçada e os cabeços molhados ela o avistou. Seu coração estava calmo e acelerado. A aflição que sentia no mesmo instante dissipou-se. No encontro daqueles olhos certificou seu refúgio. Chegou ao seu lado. Ele a viu, nada pronunciou, não esperava tal atitude. Então ele se levantou e apertou sua mão. Parecia um simples aperto de mão. Sim, quem sabe era realmente um simples aperto de mão. Não para ela, que naquele momento sentia o toque daquela mão apertar a saudade para abrir espaço para a alegria.

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